OS ESPELHOS DAS FADAS CELESTES
Vocês já ouviram falar no palácio de Brocado?
Ora, é o palácio das duas fadas celestes que, durante o dia inteiro, tecem as nuvens para o imperador do céu. E vocês estão muito enganados se pensam que elas estão felizes com o seu destino. As duas fadas se aborrecem mortalmente no seu palácio. Aliás, um dia fugiram de lá.
Era o dia do aniversário do Imperador do Céu e todos os criados estavam ocupados com os preparativos de uma grande festa. Os funcionários celestes divertiam-se nos salões imperiais e a guarda da Porta do Sul, aquela pela qual se desce para a terra, bebia alegremente à saúde do imperador, e pouco a pouco ia caindo numa tranquila sonolência.
As duas fadas celestes tinham ficado sozinhas. E vocês me dirão que o palácio delas era maravilhoso. Claro que sim, mas vocês já pensaram no tédio que é viver constantemente na bem-aventurança, beber néctar todos os dias e tecer uma nuvem de bigorna e sete nuvens algodoadas? Os dias se parecem assim como um ovo se parece com outro, e as nossas duas fadas aborreciam-se, aborreciam-se mortalmente.
__ Sabe, irmãzinha, eu preferia ir embora e descer para a terra a continuar me aborrecendo aqui. Suspirava a mais nova. __ Os homens não sabem quanto são felizes! Tanto trabalho, e sempre coisas novas, como eu gostaria disso!
__ Eu também. Continuou a mais velha. __ Se você visse as montanhas e os rios que as serpenteiam! Como é lindo! Não temos nada assim, aqui nesse palácio aborrecido. E se fugíssemos?
A distância entre pensar e agir não é longa. As duas fadas se puseram a caminho e, na ponta dos pés, devagarinho e com cuidado, esgueiraram-se até a Porta do Sul, que levava à terra. Os guardas dormiam profundamente. As duas moças saíram então furtivamente.
__ Agora, irmãzinha, vamos nos separar. Propôs a caçula. __ Você vai para o Sul e eu irei para o Norte. E quando encontrarmos alguém em dificuldade ficaremos lá para ajudar.
Assim as duas fadas se separaram. E tudo aconteceu como a caçula havia dito. Tanto uma como a outra encontraram duas velhinhas solitárias e cansadas e ficaram para ajudá-las. Logo perderam a sua cor transparente e ficaram rosadas. Gostavam muito da terra. Nunca mais pensaram no céu.
Mas infelizmente nada é eterno. Cem anos tinham se passado na terra, cem anos, o que equivale exatamente a sete dias no céu. As festividades haviam terminado e o Imperador do Céu começou a procurar as jovens. Mas foi em vão. Era impossível achá-las.
__ Mas onde foi que elas se meteram? Resmungou o imperador. __ Já faz um bom tempo que não chove, e eu gostaria que me tecessem o mais depressa possível uma nuvem de temporal.
E o imperador mandou procurar as duas fadas. Os criados voltaram logo, dizendo que a Porta do Sul estava aberta e que, provavelmente, as duas moças tinham fugido.
__ É o cúmulo! Exclamou o imperador. __ Tragam as duas de volta agora mesmo! Senão, mandarei à terra uma seca abominável!
E os mensageiros celeste desceram à terra à procura das duas fadas. Finalmente as encontraram. Elas não queriam voltar, mas foi preciso se render. Não se podia desobedecer a uma ordem do Imperador do Céu. De cabeça baixa e com os olhos cheios de lágrimas, as duas fadas retomaram o caminho do céu.
Ao chegar diante da Porta do Sul, a mais nova disse:
__ Sabe irmãzinha, acho que vou morrer de saudade se não puder mais olhar o mundo lá embaixo...
A mais velha sacudiu a cabeça suspirando. Depois disse:
__ Tenho uma ideia. Vamos jogar os nossos espelhos. Assim, quando olharmos lá para baixo, veremos o mundo inteiro refletido neles.
Então as duas moças tiraram os seus espelhos das suas largas mangas, e os jogaram lá embaixo.
Os espelhos desceram cintilando, rodaram por um momento, fazendo um leve assobio, e foram cair na terra, onde se transformaram em dois lagos, cujas águas cristalinas refletiam as florestas, as colinas e os homens. E sabem onde estão esses dois lagos? Um está na China, é o grande lago Ocidental, e o outro no Vietnã, em Hanói.
Contos Chineses
Retirado de Contos e Fábulas
Por Stela Maris da Rosa Dias
Junho-2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário